Você sabe lidar com suas frustrações?

Uma das coisas que mais escutamos em clínica é sobre frustração, sobre como as pessoas não conseguem lidar com o ato de falhar. Mais ainda: buscam auxilio para evitar o sentimento, para não ter que experienciar a falha, a perda, a tristeza.

E o assunto nunca esteve mais em alta do que na atualidade, com uma situação como a pandemia. As pessoas têm se sentido cada vez mais frustradas, o que gera ansiedade, stress e até pode aflorar como sintomas físicos. Tudo isso porque a pessoa não quer se permitir sentir algo que, em primeira vista, é negativo.

A primeira coisa a observar-se é que a frustração não é um sentimento negativo. Ela é parte do seu desenvolvimento para compreender-se melhor. Em nossa sociedade de performance, ouvimos que errar, perder, falhar são funções opositoras ao pretenso “sucesso”, que você é um perdedor a partir do momento que se frustra com algo, que não atinge seus “objetivos”.

A fantasia criada pelo inconsciente coletivo nos leva a crer que sofrer é um erro, sendo que ele pode ensinar muito para nós. A expectativa criada pelo discurso de metas (“construa suas metas e você terá sucesso”), passos (“obtenha o que quiser em 7 passos”) e guias / gurus (“eu obtive então você pode usar o que aprendi para você mesmo”) nos faz crer que a jornada tem começo – meio – fim caso tais métodos sejam seguidos, e você é um indivíduo único, com seus próprios desejos e objetivos (mesmo que ainda não estejam claros para você).

O que funcionou para uma pessoa certamente não funcionará para outra, pois todos somos diferentes. Você criará uma expectativa baseada na experiência de outro, que não é sua. Acreditar em um discurso formatado de forma generalizada ampliará sua frustração ao não atingir o que quer e, pior ainda, culpará você mesmo pelo “fracasso”. 

A frustração ensina. E só nos frustrando temos a oportunidade de não cometer os mesmos erros. Conhecer seus limites é parte fundamental do processo. Sentir-se bem com a frustração é aprender um pouco mais sobre você.

(Texto redigido ao som de Miles Davis – Bitches Brew)