Séries: “Euphoria”
Os americanos têm um termo interessante para os adolescentes que não se alinham aos padrões impostos pela sociedade: Teen Angst. Na literalidade, seria Angústia Adolescente.
Na época em que o ouvi pela primeira vez, nos anos 90, não fez muito sentido (eu era um adulto em formação, tinha minhas próprias angústias), mas no desenrolar das minhas experiências em relações humanas, ficou cada vez mais claro que havia um sentido na tal estrutura de linguagem.
A adolescência é uma fase de transição, que traz muito mais confusão do que respostas. É um grande momento de um vácuo entre o que seria a expectativa dos pais (frustradas, na maioria das vezes) e o descobrimento de seu próprio Desejo, mesmo sem ter a percepção do que seria isso. E junto com a confusão, há as experimentações, as dúvidas, as tentativas, os erros. Tudo isso temperado com uma grande quantidade de pressão de todos os lados: pais, sociedade, pelos, mudanças corpóreas, o descobrimento de uma vida sexual, das drogas (lícitas e ilícitas) as escolhas e, nas últimas décadas, um elemento que intensifica o sofrimento da psique, impulsionado e engajado pelas redes sociais: a obtenção de um tal Sucesso.
A primeira temporada de Euphoria não tem como ser mais visceral em explorar este momento específico da vida dos adolescentes e da relação com seus cuidadores. Não só é uma série com um elenco tão afinado como, esteticamente, abusa de elementos de metalinguagem, cores, potencialidades visuais diversas. O roteiro é de um primor irretocável. A tridimensionalidade de cada elemento visual, cada fala, cada resposta… tudo feito com o intuito de causar desconforto ao resvalar em algo subjetivamente do Real. Sim, incomoda. Mas, sim, é o Real.
É uma série fácil? De maneira alguma, porque ela explora as atuais relações adolescentes, suas neuroses, suas angústias, sem um filtro. Para pais de adolescentes, deve beirar o insuportável. E é isso que faz a diferença quando se pensa em produção cinematográfica: a coragem de sair do imaginário, trazer para o simbólico, e resvalar na realidade. Porque lidar com nossos medos, sofrimentos e frustrações também faz parte da manutenção de nossa saúde psíquica.
Obrigatória.