
Psicanálise é sobre desconforto (a inquietação do analista)
Não há conforto, não tem jeito.
Ao falarmos sobre o desconforto do analisante, não podemos nos esquecer da figura do analista na dinâmica da psicanálise. Afinal, como preconizou Freud, em uma sessão essas denominações se alternam. A busca é do analista-analisante na percepção freudiana. A partir de percepções acerca de si, o indivíduo elabora suas angústias a partir de inquirições sobre suas próprias experiências e escolhas.
E o psicanalista em formação precisa passar por um certo apaixonamento pela Psicanálise. E essa é uma palavra que cabe muito no que estamos falando hoje. É preciso dedicação, intensidade, profundidade, acompanhamento, presença, conviver em parcimônia, respeitar (e ser respeitado) pelos pares, ceder, posicionar-se… a quantidade de palavras no apaixonar-se é grande demais para caber aqui.
Não o apaixonar-se na figura do entretenimento, como uma explosão de afetos que será colocado como um sub-amor. O ato de apaixonar-se na psicanálise é o amor em si.
Amor por uma prática, por uma convivência, por trocas, por conhecimento. Pelas suas deficiências e pela descoberta do que se tem de melhor em essência.
Mais do que falar de contratransferências ou dúvidas acerca de manejo (que precisam ser elaboradas junto ao Tripé Psicanalítico), entender que a Psicanálise não se estrutura por um saber cartesiano. Apaixonar-se pela psicanálise é entender que não há finitude de conhecimento, que estaremos em movimento, que o que nos angustia é motor para continuar a partir de saberes.
Mais do que debates acerca de ciência ou não (afinal, como diria o fantástico perfil @hmmfalemais: “quem quer ser cientista?”), o desconforto é parte da psicanálise desde seus primeiros contatos. E acostumar-se com a não-conformidade é parte constante da vida do analista. Toda sessão, todo discurso, todo indivíduo é único. Sendo único, não há que agradar ninguém, pois o desejo é pessoal e intransferível.
Mais do que Conselhos e conselhos, psicanálise é sobre a tripartite do estudo constante, análise pessoal e supervisão dos casos. 3 desconfortos diários neste caminho tortuoso, que incomoda, que angustia. Mas que transforma. E isso é fato, por mais desconfortável que seja.