Psicanálise é desconforto (a inquietação do analisante)

É compreensiva a impessoalidade como somos provocados pela psicanálise no sentido do desconforto, da inquietação, do desaconchego. Não apenas como psicanalistas, mas também como analisantes (afinal, o tripé psicanalítico é sobre Isso). Apesar de falar de reencontros, do autoconhecer, das elaborações sobre os discursos, estar em um setting analítico não é tarefa simples.

Freud já falava disso lá atrás. Afinal, sua organização teórica sempre foi embasada pelo fato de que somos indivíduos cindidos (isso, por si só, já motivo da falta de conforto), separados em duas partes: uma pela busca da adaptação ao social, outra pela busca de algo que nunca vai se realizar. No meio de tudo isso, o que nos movimenta é a construção de uma tal verdade, talvez o motor fundamental no meio de tanta insatisfação. A condição humana freudiana é a da cisão, a da manutenção constante de sintomas para, pasmem, a criação de novos sintomas. E, no meio de tudo isso, alguns momentos que se destacam, seja para a pretensa felicidade, seja para o que nos marca mais, na figura da tristeza. Mas, resvalando na realidade, a neutralidade é a parte que é mais desenvolvida. Na maioria das vezes só somos, e tudo bem.

A inquietação do analisante é a de ter que lidar com suas angústias. E são muitas, constituídas desde muito cedo na organização da tal busca de prazer. Parte da organização do aparelho psíquico se dá na fase adulta, mas tal organização não é, pelo menos para a maioria dos indivíduos, suficiente. Implicado, o indivíduo se irrita, fica inquieto. Mas, com o manejo correto, também pode sentir-se menos atravessado e retido pela sensação de não-continuidade, imprescindível para o motor. Recordar, repetir e elaborar é premissa básica. Mas é um processo lento de investigação que a modernidade não permite. Tudo tem que ser rápido, ágil, responsivo. Aos que se propõe à jornada, não à gratificação, o caminho se torna mais leve, apesar de desconfortável.

E a inquietação do analista tem várias formas. Todas não cabendo neste pequeno espaço textual, que necessita de extremo poder de síntese. Que ficará para um próximo momento.

Como num corte.

Não há conforto, não tem jeito.