O ATO DA REFLEXÃO
Muito comum em clínica, o analisando sente-se à vontade para falar e simplesmente não quer parar. Quando aquela porta foi aberta, quando ele se percebe na presença do Outro, quando a transferência é presente, dá-se o ato do desague dos pensamentos, alegrias, frustrações, afetos e, principalmente, o ouvir-se.
Estamos falando do inconsciente sendo permeado com informações recalcadas por décadas, desde crianças. Informações estas que podem, ou não, ser úteis em um futuro quando tratamos de assuntos diversos que, em algum ponto do nosso desenvolvimento, podem emergir em forma de sintomas, afetos, somatizações.
Dentro desta corrente de dados que nem imaginávamos estarem presentes em nós, muitas vezes sentimos a necessidade de simplesmente “colocar para fora”. E o trabalho do psicanalista, dentro desta perspectiva, é a Escuta. Não simplesmente o ato de ouvir, mas de tornar-se um guia dentro desta Associação Livre de Ideias. A Escuta não é simples. É bem mais complexa do que parece. Treinamento, estudo, subjetivação, compreensão, projeção, terapia pessoal, supervisão… são alguns dos elementos que precisamos aperfeiçoar diariamente para que possamos compreender e fazer as perguntas corretas para o analisando, pois é através delas que se dá o processo de cura.
Devido à esta quantidade de informações apresentadas em análise que existe um tempo definido para as sessões, de acordo com cada caso. E, para uma melhor compreensão de tudo o que foi dito (pois o analisando não está acostumado a “se escutar”) é imprescindível o ato de reflexão. Após a sessão, há um tempo necessário para que o que emergiu possa ser decodificado, compreendido, assimilado. Este tempo é importante para que possamos refletir sobre nossas decisões, nosso passado e presente, e para que melhores decisões possam ser tomadas no futuro. Paciência é a chave para desdobrar-se e compreender-se.
Participar de um processo analítico não é uma tarefa simples, tampouco rápida. Mas, imagine: você foi constituído por décadas de informações, decisões, traumas, alegrias, frustrações, expectativas… não seria uma jornada interessante poder olhar para tudo isso por uma nova perspectiva?