Lotar agenda (parte 02) - Psicanalista Sandro Cavallote
18661
post-template-default,single,single-post,postid-18661,single-format-standard,bridge-core-2.6.4,qode-page-transition-enabled,ajax_fade,page_not_loaded,,qode-title-hidden,hide_top_bar_on_mobile_header,qode-child-theme-ver-1.0.0,qode-theme-ver-26.4,qode-theme-bridge,disabled_footer_bottom,qode_header_in_grid,wpb-js-composer js-comp-ver-6.6.0,vc_responsive

Lotar agenda (parte 02)

Quem quer estar em um ambiente lotado?

Por mais que tenhamos experiência na prática psicanalítica, seremos atravessados pelos conteúdos do analisante. Alguns com maior incidência, outros nem tanto, mas a estrutura transferencial (quando bem realizada) deixa algumas marcas em nós, assim como no analisante.

Precisamos repensar as dinâmicas que utilizamos em nosso manejo. Por mais que estejamos em uma posição de acolhimento em relação ao sofrer, a estruturação de limites também é parte da clínica. Inclusive os limites pessoais.

Há incidências que podem comprometer essa não construção de limites. Falamos de barreiras monetárias, mas também há a subjetividade envolvida no processo, na forma de culpas diversas, um certo “estrelismo”, uma necessidade constante de se mostrar ocupado (uma das novas formas de sofrimento) e o velho “não saber dizer não”. Todos precisam estar presentes nas supervisões, para uma elaboração motivos de tais excessos.

Muitas vezes nos esquecemos de que podemos ser incididos pelo narcisismo exacerbado. Essa é uma constante no uso da rede social. A análise pessoal serve, também, para lidar com Isso.

O discurso de produtividade que permeia nossa modernidade é repleta das questões de excessos. Nós também somos atravessados por ela. “Estou trabalhando demais” virou verbete do cotidiano. Desmembrar essa frase tão simplificada em clínica demonstra os excessos de quem as proferiu.

O “lotar agenda” também nos desgasta a partir das demais demandas da psicanálise, como a formação contínua, as leituras, os cursos, as trocas, as supervisões. Ainda há espaço para o viver além do sobreviver, na busca do prazer. Afinal, ninguém é de ferro. Por mais que ache que é, vai se frustrar bastante.

Um último ponto é sobre a tal “lista de espera” que vejo alguns elaborando por aí. Psicanálise é feita em pares, em grupo, no coletivo. Caso não tenha espaço, encaminhar para um colega que possa atender é fundamental. Afinal, o analisante está em angústia. Por que prolongá-la?

Duas vertentes de um mesmo ponto narcísico, o “lotar agenda” e a “lista de espera”. Lotação e fila. Quem, em sã consciência, merece isso?



Abrir Chat
Posso ajudar?