[Livros] “Cultura do Consumo”, Isleide Arruda Fontenelle
Quando falamos de Psicanálise e Contemporaneidade, temos que ter em mente que as incidências das novas formas de sofrimento devem ser consideradas no setting. Não canso de repetir: Freud é imprescindível para a Psicanálise, não há organização teórica-prática sem ele, entretanto são mais de 100 anos desde “A Interpretação dos sonhos”, portanto a humanidade mudou muito, principalmente com o desenvolvimento tecnológico (que afeta não apenas as estruturas de comunicação, mas abrange uma vastidão de mudanças, como medicina, trabalho e coletivo), e cada época tem seu próprio mal-estar.
Estar em consonância com a modernidade no discurso do analisante e do que incide suas angústias atuais pode ser um caminho fundamental para a amplitude da Escuta. Para a Psicanálise, não há verdades absolutas, a organização do subjetivo de cada analisante pode (e deve) se organizar para que a fantasia possa ser trazida de qualquer forma, sem amarras, pois ela é representativa no sentir do analisante. As regras da consciência não se aplicam nas questões da inconsciência e ter isso em mente abre muitos espaços de acolhimento. E o contemporâneo precisa de Escutas que estejam além de nossas questões pessoais. A neutralidade se dá nas questões de julgamentos feito a partir de percepções individuais, tendo como base fatores culturais, sentimentais, ideologias e pré-conceitos pessoais, normalmente relacionados aos valores morais. E cercear o analisante de sua própria subjetividade é um ato de violência contra ele.
Um dos pontos mais constantes em meus espaços de transmissão se dá pela incidência que o mundo atual traz nas questões de consumo. “Cultura do consumo”, é obrigatório para entender a construção cultural e como somos manipulados à busca constante de objetificações e produtizações das mais variadas, inclusive sobre como isso se dá em num nível subjetivo. Ela traz com muita organização e com um texto acessível, entre muitos outros conceitos, as raízes do consumismo, o surgimento do comportamento do consumidor, a cultura de consumo, e as relações com o sofrimento psíquico em muitos pontos muito bem desenvolvidos.
Entender o hoje é entender que estamos em constante transformação.
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