[Livros] “A gente mira no amor e acerta na solidão”, Ana Suy
Nós crescemos com uma visão idealizada do amor. Romantizada seria uma perspectiva mais popular, pensando que a indústria cultural vem nos bombardeando há décadas com essa perspectiva do amor como uma construção de início – meio – fim. Novelas, livros, Disney… são anos e anos de disseminação de uma visão de uma completude a partir do Outro, o que nos coloca em uma busca vitalícia pela tal “metade da laranja”.
O livro de Ana Suy é fantástico pelo sentido que se dá na simplicidade: é um diálogo. São textos curtos (mas extremamente ricos e nada verborrágicos) que abrangem aspectos fundamentais da visão psicanalítica como Complexo de Édipo e narcisismo, mas com palavras embaladas quase que como um dia ensolarado num café ou, quem sabe, até um abraço bem apertado. E ela ainda consegue amarrar o sentido da solidão nessa busca que promovemos pelo preenchimento da falta. Sim, aquela constituinte que tanto falamos em aulas, transmissões e espaços de acolhimento.
No meio de tudo isso ainda há os elementos geracionais, os conceitos que a publicidade quer nos vender o tempo todo e, na última década, o controle exercido pelas redes sociais à respeito do nosso Desejo. Tudo isso embalado num belo embrulho colorido, brilhante, que delega movimento de nossa subjetividade sem que percebamos, e que mexe diretamente com nossa relação com o consumo, mas sem esquecer outros afetos importantes para a elaboração, como o ciúme, amizade e abandono.
A relação trazida pelo título do livro faz todo o sentido. Como ela mesma aponta em um dos capítulos: “Poder ficar sozinho é sinal de boa saúde mental”. E poder levar isso para nosso manejo clínico pode fazer toda a diferença.
“Freud afirma que a gente só conhece a felicidade de maneira episódica. Sem diferença nada existe.”
“A gente mira no amor e acerta na solidão”
Ana Suy
Editora Paidós
(*) Já aviso que virou “cesta básica” das minhas aulas.