[Livro] “Quando os filhos precisam dos pais”, Françoise Dolto
No finalzinho da década de 70, a psicanalista Françoise Dolto foi convidada por uma rádio a participar de um programa onde responderia perguntas dos ouvintes relacionadas a criação dos filhos. Como boa psicanalista, ela pensou que seria uma elaboração selvagem demais tentar organizar um raciocínio sobre certos casos a partir de um relato com tamanha velocidade de resposta. Devolveu à rádio que poderia desenvolver um programa, caso ela pudesse responder cartas com dúvidas enviadas pelos ouvintes. Assim ela teria o devido tempo de construção de uma resposta adequada para sanar não apenas as dúvidas, mas trazer informações relevantes acerca da saúde mental com crianças.
O resultado dessa dinâmica pode ser visto no fabuloso “Quando os filhos precisam dos pais”, principalmente porque a autora foca boa parte de suas respostas na dificuldade de comunicação entre pais e filhos. Para ela, a linguagem é parte constituinte do ser humano desde o início, antes do nascimento em si e ainda na gestação. E que os pais perdem oportunidades variadas de interpretação e criação de conexões com seus filhos a partir de suas próprias dificuldades linguísticas e de trocas. Ela propõe um debate entre a ética psicanalítica e a importância dos educadores no processo de desenvolvimento psíquico das crianças, e de como a construção de pontes baseadas na linguagem podem ser diferenciais para que o adulto se desenvolva de forma saudável e mais organizada em afetos.
E Dolto é imprescindível para quem se interessa pela psicanálise com crianças e adolescentes. Desde que propôs um possível adoecimento dos infantes pelo inconsciente dos pais (“uma criança herdeira de nossas dívidas de adultos, uma criança sintomática do que permaneceu atado às gerações que a precederam”), ela tornou-se peça fundamental para minha linha de saber e de manejo.
Um livro leve, gostoso e recheado de reflexões, como uma boa conversa deve ser.
“Quando os filhos precisam dos pais”
Françoise Dolto
Martins Fontes