[Livro] “Perversão” – Robert J. Stoller
Uma das coisas que mais prezo e tenho buscado (inclusive em minhas publicações) é evitar o uso exacerbado de elementos que possam trazer confusão ao leitor. Por mais que a teoria precise ser elaborada para uma justificativa, há muitas publicações na psicanálise que beiram a verborragia quando se propõe a explicar e exemplificar temas. Ao leitor, muitas vezes fica a sensação de não estar entendendo, o que traça uma linha subjetiva a partir de seu próprio saber, colocando-o sob seu próprio escrutínio pessoal, o que pode emergir numa sensação de angústia.
Uma das coisas fantásticas à respeito deste livro do psiquiatra Robert J. Stoller é que ele vai exatamente nessa contramão: a de fugir do uso contínuo de palavras e de conceitos que permeiam as publicações psi. E ele deixa isso claro logo no início do livro: “… de modo geral, não acredito que a linguagem técnica da psicanálise seja necessária; isto fará, talvez, com que o leitor sinta falta de uma qualidade mais pesada, costumeiramente presente nas discussões analíticas sobre sexualidade. Temas psicológicos importantes podem, na maioria das vezes, ser expressos com precisão na linguagem comum, com a vantagem adicional de que qualquer fragilidade, em termos de argumento ou de dados, ficará mais visível para ambos, autor e leitor, se o tom for informal.”
Lindo isso. Considero isso uma forma de inclusão.
O autor se propôs a debater o conceito de perversão em sua essência, suas origens e funcionalidades. Ele se baseia muito nos conceitos freudianos e de Lacan, mas de maneira direta. E é fantástica a forma que os elementos são colocados no debate, a partir de etimologias, definições práticas e muitas provocações. Não há como dissociar a psicanálise de uma abertura maior sobre a sexualidade não apenas genital, mas que nos constitui desde nossa existência uterina.
O debate sobre as perversões é importantíssimo. Porque, na minha visão, há uma nova proporção dos conceitos relacionados à perversão. Revisitar e embasar com as estruturas das novas formas de sofrimento (no ambiente profissional, por exemplo), da contemporaneidade e do que estamos observando em clínica, é fundamental.