[Livro] “O testemunho de Maryan”
A construção do setting analítico passa por várias transformações durante o processo. A partir do discurso do analisante, o fundamental recordar – repetir – elaborar proposto por Freud será ferramenta para a (des)construção do indivíduo a partir de sua subjetividade. Mas durante as percepções de sua própria neurose (inerente em cada um de nós, mas em intensidades singulares), há uma dimensão específica que sempre me incomodou, ao qual Freud não se dedicou como poderia em termos de importância, mas que é presente em muitos dos casos aos quais somos submetidos: o do trauma.
Não o que falamos comumente, mas dentro do setting. Não o termo em si, mas as especificações que permeiam sua expressão. A dor, a angústia, a negação infantil proposta por nossos cuidadores desavisados. É um assunto espinhoso. A literatura da saúde mental é um pouco difusa sobre definições, organizações e tratamento. O fato é que, pelo menos na minha clínica, é um ponto importante de ser revisto e interpretado junto com o analisante.
Acho que a própria dimensão da não-atenção com o possível trauma é, talvez, uma evidência de que ele deveria ser levado mais a sério como elemento discursivo. Por não ser algo presente em todos os discursos, sua proeminência subjetiva já deveria ser um ponto de atenção. Enfim, é um assunto que me atrai e que me levou a um nome do círculo freudiano que foi relegado e que está sendo revisitado na atualidade: Sándor Ferenczi.
E os estudos sobre o autor me levaram a esta preciosidade: “O testemunho de Maryan”. De uma forma bem simplificada, é a expressão do trauma a partir da arte, da pintura, do não-verbal. Acompanhando as ilustrações do artista Maryan S. Maryan, um sobrevivente dos campos de concentração de Auschwitz, o psicólogo Alan Osmo traça uma biópsia do conceito de trauma a partir da visão de Ferenczi e outros autores, e como o social e nossas estruturas relacionais são basilares para nosso desenvolvimento psíquico, inclusive no que tange às angústias e formas de acolhimento.
“O testemunho de Maryan – Limites e possibilidades na expressão do trauma”
Alan Osmo
Benjamin editorial