[Livro] “Automutilação na adolescência”
Na clínica psicanalítica focada na adolescência, a comunicação não-verbal se faz muito presente. Auxiliar o analisante a entender-se dentro deste processo, em uma visão muito mais ampla do corpo, é parte de uma dinâmica que exige escuta, paciência e muito acolhimento. Entre as formas de expressão utilizadas, a automutilação (ou, como colocada de forma muito ordenada no livro, a escarificação) precisa ser observada muito além do ato em si, mas na percepção do que se esconde a partir desse sentir para não sentir.
O livro “Automutilação na adolescência: corpo atacado, corpo marcado”, de Aline Gonçalves Demantova, foi um grande achado no sentido de organização de tal recurso, o da escarificação, inclusive na dimensão patológica. O que se pode dizer subjetivamente e inconscientemente a partir da evocação de um sensorial, da inscrição em superfície deste corpo ainda em formação, da criação de um relevo que evoca lembranças que, de certa forma, ele produz para querer esquecer. E, o mais importante: o que há de significar a partir desta experiência singular que tem relação com a psique em sofrimento mas, também, com a comunicação de vários não-ditos.
Construído a partir da tese de mestrado da autora, certamente é abrangente o suficiente para nos auxiliar em clínica, com uma linguagem acessível e que responde a várias questões mas, mais importante ainda, levanta outras cuja demanda acaba sendo específica, mas que nos motiva a continuar na busca por resposta. Um conteúdo importante e muito atual, cuja contemporaneidade do tema é parte do cotidiano de enfrentamento das novas formas de sofrimento.