[Filme] "Tár" - Psicanalista Sandro Cavallote
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[Filme] “Tár”

A vida de Lydia Tár passa por um escrutínio jornalístico logo nas primeiras cenas do filme. Afinal, Tár é a primeira mulher a ocupar o posto de maestro (um título que ela faz questão em refutar a versão feminina da palavra) na Filarmônica de Berlim, e uma das poucas pessoas a ganhar o Emmy, o Grammy, o Oscar e o Tony. Discípula d e um renomado músico, a entrevista aborda vários momentos da carreira da musicista, inclusive o que não foi incluído em sua autobiografia, “Tár on Tár”.

Tár sabe o quanto mobiliza relações de poder e como é representativa em sua força de expressão além das ferramentas da música. Ela sabe que é uma força cultural e que, para tanto, deverá fazer escolhas e renúncias. Mas ela se sente bem neste papel. Sua vivacidade, seu perfeccionismo, sua energia na condução da orquestra, seus gestos precisos. Tudo passa por ela, que não se intimida na presença do masculino, e faz questão de dimensionar que os processos de decisão são delas. E são estas possíveis qualidades que o filme coloca em questão: com tais extremidades metódicas, de racionalidade e organização como, ainda assim, ela tem atitudes tão irresponsáveis e que visam trazer anarquia à sua própria vida? Construções muitas vezes cruéis, manipulativas e exacerbadas narcisicamente?

Essa dualidade apresentada na obra reflete a relação que temos com nosso desejo pessoal, com nossas pulsões, com o enebriamento de predicados que transcendem nosso talento. É o arcabouço onde somos colocados pelo público, pela mídia, pelo ser que é alimentado no engajamento, no tornar-se relevante. E é nesta condição onde a obssessividade e a necessidade de controle emergirão. Mas há um passado, há uma constituição do presente. E a ascensão muitas vezes só espera o momento certo para que a queda seja inevitável.