[Filmes] “Praça Paris”
Um dos fatores que me fazem utilizar elementos da cultura como parte de um processo de transmissão da psicanálise não se dá apenas pelos temas em si, mas pelo que pode ser extraído da essência e dos subterfúgios linguísticos que transmitem linguagem. Neste ponto, o cinema é fantástico não por seu direcionamento através da sinopse-base, mas das consequências e percepções subjacentes ao tema.
E, junto com tudo isso, ainda há a percepção do que transcende nosso conforto, muitas vezes trazendo desconforto em nossa própria língua. Filmes nacionais trazem essa vertente para muitos de nós, na figura de uma percepção de estranhamento estético / redacional. Interessante este movimento: o de nos sentirmos estrangeiros em nossa própria língua. A psicanálise implica. E muito.
“Praça Paris” é um destes exemplos. Em sua sinopse básica: uma estudante (natural de Portugal) de psicologia no Rio de Janeiro atende uma moradora da comunidade que tem ligações familiares com o tráfico. Mas essa linha é apenas uma dimensão inicial do que o conceito pode trazer no intramundos proposto pelo roteiro. Há elaborações suficientes, principalmente no contexto social da saúde mental. Desde as implicações de raça até as diferenças de comunicação e relações de prazer. Da fantasia que permeia a construção de setting analítico até as vicissitudes dos medos a partir dos cotidianos.
Por mais que não se valorize devidamente o produto cinematográfico nacional, há que se dimensionar que os dilemas e dificuldades dizem muito mais sobre nós do que, essencialmente, da cultura na qual estamos inseridos.
* Estou muito feliz que o filme foi escolhido para o próximo Luz, Câmera, Psicanálise da EPC, para o próximo 8/7.
Direção: Lúcia Murat
Disponível no Netflix