[Filmes] Elena
Na Psicanálise temos uma reorganização das visões sobre o que é real e o que é fantasia. Na verdade, em um setting analítico, isso é relevante do ponto de vista do discurso do analisante e cabe ao analista organizar-se a partir das percepções particulares que atravessam as palavras. E as fantasias são fundamentais, assim como são os sonhos.
Muitas vezes uma obra cultural, um filme, por exemplo, tenta se apropriar da linguagem própria de tais elementos, e são poucos os que conseguem emular a atmosfera que se apresenta entre as sensações proferidas pelo discurso e o que se é Escutado em clínica. A diretora Petra Costa consegue uma tarefa que parecia impossível: transpor para as telas as sensações sobre sua irmã, Elena, e a busca de um sonho nos EUA e que tornou-se algo muito mais complexo. Mais do que um relato pessoal, as imagens de gravações antigas, a atmosfera onírica formada pelas imagens da natureza em detalhes vívidos (talvez representando as sensações da própria diretora), recortes de jornal e pequenos trechos de escrita, aliadas aos relatos da mãe e de algumas pessoas que permearam as relações de Elena constroem um quebra-cabeças que nos faz repensar nossas relações familiares, assim como nossas construções na jornada psicanalítica. Afinal, a depressão é uma condição insidiosa que se apresenta em marginalidades, o que sempre nos coloca em uma dinâmica de dúvidas e reconsiderações.
Indo muito além do que uma peça de entretenimento, “Elena” é um relato mais do que pessoal, é um relato visceral que encontra na mídia cinema uma forma de expor afetos, angústias e confusão. A busca de Petra pela irmã se confunde com sua própria busca.
“Elena”
Dir: Petra Costa
(Disponível no Netflix)
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