[Filmes] Big Vape
Estamos na era da ansiedade. Podemos falar sobre suicídio, depressão e outras formas de sofrimento, mas o que podemos organizar é que a ansiedade foi normalizada e nos incide o tempo todo. Normalizar o absurdo é parte de um processo que vem se desenvolvendo de algumas décadas para cá, mas é assunto para outro post.
O fato é que estar em um Setting Analítico é lidar com as mais variadas formas de ansiedade. Se antes, ao acordar, nos deparávamos com elementos da realidade, como a sensação de nosso corpo físico, o Sol, o mexer dos dedos dos pés, o sentar na cama, o levantar devagar até que nossa mente pudesse se dar conta de nossa condição para o dia, na atualidade a primeira coisa que fazemos é pegar o celular. E essa pretensa pequena mudança de comportamento faz todo o sentido para nossa relação com os excessos da modernidade.
Portanto, mais do que demonizar a tecnologia, vamos falar de como boas ideias são deturpadas para dar lugar ao lucro, e de como o descontrole da nossa ansiedade faz parte desse processo que nos tira de nossas relações de Desejo, nos colocando constantemente numa relação com prazeres fúteis e desonestos até. Tudo isso no sentido de controle, afinal as redes sociais se tratam disso, não é?
Neste documentário maravilhoso do Netflix nos deparamos com o começo, meio e fim de uma ideia que poderia mudar o mundo para melhor: acabar com o cigarro. Como? Usando uma tecnologia que pudesse evitar a combustão, gigantesca causa de mortes em todo o mundo e apontada como uma das grandes epidemias normalizadas por nós. O vape (um conhecido de quem atende jovens em Análise) desenvolvido por uma startup americana tinha por nobre objetivo essa premissa. E talvez conseguisse, caso a indústria do tabaco não tivesse a força que tem.
Um minucioso estudo sobre como a publicidade e o marketing (na figura do lucro) desestruturam tecnologias que poderiam mudar o mundo e, mais ainda, entram na mente de nossos jovens causando mais dependências do que nunca na história da humanidade.
A Escuta contemporânea é estar conectado também com este tipo de sofrimento. E estar conectado com tais formas de angústias é imprescindível para o manejo clínico.