[Filmes] “Alice, darling”
As nuances de um relacionamento abusivo são bem mais complexas do que aparentam em primeira mão. Quando a violência é explícita e física, fica difícil esconder a dinâmica do sofrer, para quem passa pelas situações, para os espectadores ao redor. A conversa se torna mandatória, assim como possíveis intervenções, pois quem está em tal situação muitas vezes não consegue identificar tal lugar. Pois o abuso é algo que se entranha e nos transforma no íntimo, brincando com nossas emoções e sentimentos.
“Querida, Alice” foi desenvolvido por mulheres que passaram por tais situações. Não só a atriz principal, mas também a diretora e roteiristas. E o que mais salta aos olhos é como elas se importaram em manter o foco no que não se diz, no que não é perceptível a olho nu. O objetivo aqui é realmente realçar o ponto de quebra do abuso psicológico perpetrado de várias formas pelo namorado da personagem principal, que se tornou co-dependente de seu narcisismo. Sem sangue, sem o contato, só a dissecação dos atos em si. E como é importante estarmos ao lado de pessoas que realmente se importam conosco nestes momentos, para que possamos reencontrar a força para o continuar a qualquer custo.
Às vezes, a coisa mais difícil de se ver é a verdade, como diz o slogan do filme. E, às vezes, não há como passar por tudo isso só. E a angústia de Alice, que sabe que está em uma relação que corroi, que encolhe, que manipula, é expressa a cada olhar, a cada pequeno detalhe. Esse sofrimento velado, quieto, silencioso, muitas vezes soa como um grito de desespero para quem está ao redor.
Um filme difícil, cru e tenso, mas que nos provoca o tempo todo a reavaliar nossas ações. Um retrato realista, que trata de paralelos de enfrentamento intensos, mas necessários.
“Alice, Darling” (2022)
Dir: Mary Nighy