[Filme] “Respire Fundo”
A depressão é um agente silencioso. Ela vai ser apropriando do sujeito desde muito cedo, nas mais pequenas minúcias, nos detalhes, nos comportamentos. No meio de tanta pressão para crescermos, muitas vezes tentamos ignorá-la, passar por cima, deixar de pensar, mas ela pode se manter enraizada por muito tempo. E tais raízes são bastante complexas de serem desbastadas depois de um tempo.
Na psicanálise sempre mantermos o discurso de que muito que nos constitui em nossa forma adulta foi formada lá atrás, na infância. E como é importante que se fale sobre isso no setting analítico mesmo que não esteja de acordo com a vontade do ser já desenvolvido. O trabalho do psicanalista é retirar camada por camada dessa fuga do reencontro, agora sob um novo viés, sob novas experiências. E o enfrentamento nunca é simples.
“Respire fundo” é um filme sobre essas raízes, sobre como a depressão detém um poder invasivo e insidioso, que se esgueira aos poucos e nos torna participantes de uma dinâmica de altos e baixos que, sem a percepção, acolhimento e profissionais corretos e dedicados, pode ser devastora para o sujeito e seu ambiente. Mesmo nas formas de sublimação, há o não-dito, a percepção de pedidos de ajuda que não foram emitidos, a angústia do não-lugar.
Mesmo com uma vida “perfeita”, há muito a ser compartilhado no setting analítico. E eu fico impressionado como os filmes americanos adoram falar sobre a dor da doença mental, mas nunca aponta para soluções que visem um enfrentamento na Escuta, sempre na medicação.
Esse filme me cortou o coração. Em todo o conjunto de percepções que ele traz, mas também pelo assunto da depressão pós-parto, que na maioria das vezes não é levado em consideração e é parte fundamental do acompanhamento das grávidas. E de como a dor já está lá desde muito tempo, mas os sentimentos são tão complexos que se misturam, se perdem e, muitas vezes, tornam-se incontroláveis.
(Disponível no HBO Max)