Filme: “O Lado Bom da Vida”
Muitos pensam que a psicanálise é uma prática sisuda e dura. E em alguns momentos, realmente é. Mas não se resume a apenas isso. Freud mesmo se demonstrou uma pessoa de muito bom humor em vários momentos. Na verdade, o uso do humor em clínica nunca foi impeditivo dentro do setting. Cada manejo é único, cada sessão tambem e cada analisante, singular. E, dependendo da ocasião, o humor pode ser uma ferramenta bem importante para o acompanhamento. O próprio chiste é parte desta construção. Cabe ao analista entender se pode ser útil ou não.
E eu quis falar sobre humor na psicanálise exatamente porque “O lado bom da vida” é um filme que lida muito bem com o assunto sem ser piegas ou focado em risadas gratuitas. Pela temática da relação dos personagens principais com suas condições psiquiátricas em recuperação, assim como com o social envolvido nas relações, o filme consegue tratar de assuntos muito sérios com uma leveza única, quase… fina. E os atores estão muito à vontade para trabalhar a liberdade de seus próprios contextos. Diálogos hábeis, que não minimizam nunca as condições de saúde, estão presentes durante todo o filme. Temas como bipolaridade, agressividade, compulsividade… tudo sendo tratado com cuidado e o devido respeito.
Em uma indústria que prefere explorar as condições de saúde mental com subterfúgios simplificados e de fácil consumo, este filme faz o oposto: lida com a empatia e o acolhimento, mas na relação subjetiva com o sofrimento.
Para assistir com um sorriso no rosto, algumas possíveis lágrimas nos olhos e uma sensação de bem-estar com as pequenas coisas da vida.
(está disponível no Netflix e, parece, no Amazon Prime também)