[Filme] “Lion – Uma jornada para casa”
A adoção é parte de uma dinâmica constante no setting analítico. A versão idealizada em conflito e a busca de si num processo de desconstrução e reconstrução a partir das percepções infantis, quase póstumas no sentido de referências e aproximações.
Dilemas intensos de abandono, de reencontro, de presenças e ausências. Fantasmas na relação, independente dos afetos positivos envolvidos pela edificação de uma nova morada.
Em “Lion – Uma jornada para casa” subjetiva-se o conceito de tal “casa”. Passamos o filme imaginando que é um retorno ao que se iniciou, para encontrar respostas para perguntas que nunca nos fizemos verbalmente, mas que permeiam nosso imaginário buscando simbolicamente uma renúncia (ou confronto) de afetos. A não-presença muitas vezes não se dá pela relação que foi cortada e não cauterizada, mas sim pela ausência de um lugar de, por mais carinho e atenção que se aja (e, às vezes, não há), ainda sente-se uma falta. Talvez não relacionada ao desejo em si, mas numa sensação de não-pertencimento.
A etimologia muitas vezes nos ajuda a entender conceitos e subjetividades, mas no sentido de “casa”, ela se perde no físico, na frieza material, ou divisões estruturais estatais, enfim, a expansividade do conceito se perde, levando a outro vocábulo: “lar”. Este, sim, configurado para uma visão das intensidades emocionais e afetivas permitidas pelo comum, pelo social. Entretanto, mesmo assim, insuficiente.
A busca por um lugar (ou uma sensação de pertencimento) é algo inerente a cada um de nós. Encontrar este espaço é fundamental para nossa jornada, seja ela consanguínea ou não. Mais do que elementos arquetípicos, o ser a ser formado (e nunca realizado) tem sua jornada na individualidade, mas que nunca será iniciada sem a afirmação do coletivo.
“Lion – Uma jornada para casa”
(Lion)
Dir: Garth Davis
• Disponível para streaming no HBO Max e em diversos para locação