
[Filme] “Estou pensando em acabar com tudo”
Charlie Kaufmann é um autor fantástico. Em sua história como roteirista, ele nos presenteou com obras maravilhosas como “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, “Adaptação”, “Quero ser John Malkovich”, “Anomalisa”, entre outros. Todos estes exemplos brincam com a condição humana, suas fragilidades, suas fantasias e as dinâmicas de enfrentamento às quais imputamos à nós e, consequentemente, ao nosso ambiente. Tudo isso como muita criatividade e elementos fantásticos e lúdicos que podem, muitas vezes, serem representações de conceitos que envolvam a psique.
“Estou pensando em acabar com tudo”, em essência, parece ser a dinâmica de um pensamento. O tal “acabar com tudo” se estrutura em vários sentidos, a cada vez que nos é apresentado na tela. Será imagético? Será simbólico? Será um fim de relação? Será um fim real? Ou simplesmente o término de uma continuidade de linguagem no sentido de um raciocínio?
No mesmo raciocínio, há uma pretensa necessidade de voltar. Voltar a quê? A qual momento? Quem é a criança? Quem é o adulto? Quem sou eu em meu ideal? E no ideal do outro? Eu sou eu ou sou um outro? O tempo lógico inexiste e eu resisto, me defendo. Mas me defendo de quê? De mim mesmo?
Ao meu ver, o filme pode ser percebido como uma grande alegoria de como nossa mente pode trabalhar. Mais do que elementos fixos e que sejam oblíquos, a linguagem se comporta de forma randômica, mas que se adequa ao que se dispõe e com os elementos aos quais possa comunicar algo, mesmo que sejam constituições simbólicas. A palavra é ampla, vai além da escrita e do significado, mas abrange constituições variadas, incluindo até o sentir a partir de sua construção. A organização discursiva se utilizará de tudo o que foi experienciado pela mente para comunicar uma condição ou algo que deseje ser comunicado. Saussure e a imagem acústica. Pecheux e a língua como contexto objeto-social-histórico. Althusser e as relações de poder pelo discurso. Mais do que conceitos, a palavra extrapola seu próprio sentido.
Portanto, mais do que estruturas com começo-meio-fim, pensar na amplitude do discurso, seja ele verbal, não-verbal, escrita, visual, psíquica ou sensorial.