[Filme] “Entre mulheres”
“Entre Mulheres” não é um filme nada fácil. Constituído com uma estrutura de retratação de época, entristece pelo debate proposto nos atravessar como reflexões do presente. Em linhas gerais, trata de uma discussão entre oito mulheres em um celeiro sobre tomar atitudes (ou manterem-se passivas) sobre as diversas violências a que se são colocadas na vida em grupo. Estupro, fé, patriarcado, culpa e perdão são apenas alguns dos tópicos que são construídos e desconstruídos pelas visões e experiências de cada uma. Como homem-hetero-cis, tentando obter cada vez mais ciência pela via da Escuta (e pelo lugar de fala), a simplicidade primária dá lugar a uma robustez cinematográfica que sabe nos colocar em tal lugar.
Esse desenvolvimento claustrofóbico do filme é intencional: ele nos coloca na modernidade, na urgência de debates mais construtivos e que realmente gerem efeitos reais. Inclusive, as opções colocadas pelas personagens orbitam o fugir, ficar ou lutar, nada mais direto do que isso. Nos últimos anos o discurso conservador tomou um lugar específico de regressão sobre as pautas de igualdade, ampliando-se os feminicídios, as perdas de direitos das mulheres e estamos vendo isso no setting analítico. Há de se imaginar que podemos ser seres que progridem, que buscam um processo evolutivo, não uma manutenção do sofrimento que já existe. Precisamos produzir novos sintomas, novas estruturas relacionais e, principalmente, entender esse constructo simbólico da desigualdade perpetuada em âmbitos sociais.
E estar no setting analítico acompanhando os relatos de mulheres e às violência(s) a que são colocadas diariamente (muitas delas sem nem perceber tais fatos) amplia nossa percepção de humanidade e nos coloca numa posição masculina de estranhamento cultural: a de ficar quieto, a de ser incidido pela Escuta e pela reflexão.
O título original é a mensagem exata que devemos obter ao assistir o filme. Escutar com a mente e o coração abertos e expostos essas mulheres falando pode ser uma experiência transformadora que nos muda como indivíduos mas, mais importante, como sociedade. Mensagem, inclusive, que será mantida neste post.