[Filme] “Close”
Desde que Freud trouxe à tona o debate psicanalítico lá no início do século 20 (parece pouco, mas já se foram mais de 120 anos…), falar sobre o tabu da sexualidade se tornou inerente e imprescindível para tratarmos o assunto da psique em seu âmago. Mas ele aliou um outro elemento que trouxe ainda mais desconforto para a sociedade: a sexualidade infantil. Tristemente, é um assunto que, ainda, não é tratado com a seriedade que deveria.
O fato é que nossa sexualidade é constituinte desde nossos primeiros dias e, no sentido freudiano, vai muito além de nossa estrutura genital. Sexualidade no sentido de organização de prazer, de perceber-se um ser desejante, de poder constituir uma estrutura narcísica primária saudável e que faça sentido posteriormente.
Quando bebês somos desejo. Durante a jornada, vamos nos assujeitando ao desejo do outro para aceitação (entre outros N motivos) e, segundo o Édipo, nos colocamos em um momento importantíssimo da constituição de nossa psique ao abrir mão do nosso grande amor, em função de todos os outros amores do mundo, muitos deles na figura de nossas amizades. Sem a organização psíquica necessária, entramos em latência, para que posteriormente muito do que estava represado, agora possa ser redirecionado.
Porque a adolescência é sim sobre transição, mas é muito mais sobre amadurecimento.
“Close” é um filme inacreditavelmente sensível sobre estes momentos. Sobre nossa sexualidade, sobre a repressão dos carinhos, sobre os reencontros com os que nos cercam e conosco. Confusão, distanciamento, isolamento, presença, necessidade. Milhares de sensações e pouca experiência de organização. Implodo em minhas sensações?
Explodo em minhas angústias?
Além de tudo o que o compõe, há um novo componente neste processo: a responsabilidade. O processamento gradual de que, agora, eu sou incidido, mas também incido. E que tal compromisso é baseado em escolhas, que reverberarão por toda nossa vida.
Fundamental.
“Close”
Dir: Lukas Dhont
Disponível no Mubi