[Filme] “Assunto de família”

“Assunto de família” é um filme visceral, na acepção da palavra mesmo. Porque ele lida com vários tipos de intimidades, de entranhamentos, de profundidades que dizem respeito às nossas subjetividades. Cada um que o assiste terá uma particularidade (ou julgamento) sobre o assunto, pois o social diz respeito à todos nós, e quando o assunto é uma família toda que vive de pequenos furtos, todos temos uma opinião à respeito.

Entretanto manter-se nessa superfície temática faz com que nos distanciemos do real no processo: nossa humanidade. A (des)construção ao qual tal grupo familiar é direcionada a partir da chegada de uma nova integrante, uma criança perdida, faz com que alguns movimentos emocionais sejam feitos, e o que se dá a partir daí é uma jornada que nos coloca em cheque sobre nossas próprias humanidades.

E aí podemos falar sobre vários tipos de abandonos, várias formas de acolhimento, vários momentos de empatia e discussões complexas à respeito do que seria realmente a pobreza, seja ela monetária, seja ela emocional, seja ela espiritual. Cabe também a discussão inter-geracional das relações humanas e mudanças de classes sociais, cada vez mais desenvolvidas no setting analítico da modernidade.

Mas o que fica é a percepção sobre o que seria efetivamente uma família. Será que a base contextual da “família nuclear” ainda é vigente? Como se dão as novas configurações familiares? O que seria o abandono parental? O que é, de verdade, o conceito de empatia? Como nossas identificações com o Outro se dão a partir do carinho, relações de prazer e, principalmente, nossa formação primária?

Talvez existam várias formas de se constituir uma família. Afinal, essa categorização ao qual somos submetidos diariamente como exigência podem nos fazer estar com o Outro, mas também à sua sombra.

E se, ao contrário do que normalmente acontece, nós pudéssemos escolher nossa própria família?

“Assunto de Família”
(Manbiki kazoku)
Dir: Hirokazu Koreeda

(*) Disponível no GloboPlay.