[Filme] "A garota ideal" - Psicanalista Sandro Cavallote
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[Filme] “A garota ideal”

Seria até bastante simples fazer uma sinopse de “A garota ideal” (que tem em seu título original, “Lars e e a garota real” uma expressão muito mais pessoal e expansiva do que na versão em português) e que poderia ser alvo de chacota inicial: adulto sente pressão social de estar em um relacionamento. Quando decide ceder, ele resolve a situação adquirindo uma boneca de sex shop, chocando todos ao seu redor.

Mas aqui eu quero contrapor pontos na relação com a psicanálise em si. A história inicial nunca é a representação direta dos fatos, mas sim uma amarração imagética que fazemos para suportar o que realmente seria, principalmente para organizar afetos e, como sempre, evitar sofrimento. E, ao conhecer a história do personagem principal contada com muita atenção, respeito e humanidade, o que testemunhamos é a relação da empatia no processo de cura numa situação extrema. Há camadas, nuances, traumas, acontecimentos que se apoderaram de sua psique desde o seu nascimento, e o percalço da culpa se mistura a todas as outras emoções e angústias em nosso desenvolvimento. O adulto é um amálgama de sentimentos, dores, fragilidades, sofrimentos diversos, tudo isso envolto num aparente avatar de força e continuidade. E o setting analítico provém esse espaço de emancipação de si, revendo conceitos e reestruturando linguagens internas esquecidas, densas, mas próprias do ser.

Ao ceder ao desejo do outro, Lars não apenas ruiu em relação ao real, mas também desenvolveu uma estrutura como um grande pedido de ajuda. E, graças ao roteirista, o recebeu. No cotidiano, não é tão simples assim. Antes o ser tivesse a humanidade necessária para abraçar o caos individual da forma que o filme mostra. Entretanto, se há algo que a obra expressa de forma ímpar é que individualmente podemos ceder, mas quando o coletivo se esforça nas relações afetivas, todos tem a ganhar.

No final das contas, o processo de cura é algo infinitamente mais intenso do que se imagina. E construir um espaço onde qualquer dor possa ser recebida, suportada e diluída, é parte de uma dinâmica fundamental do indivíduo, mas também de quem o abarca.

“A garota ideal”
Dir: Craig Gillespie
*Disponível no Amazon e Mubi



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