
Estar com a análise em dia
Ontem eu gravei uma extensa participação em vídeo falando sobre como somos incididos pelos conteúdos pessoais e dos analisantes durante as sessões. Apesar de ter certeza de como é uma prática que exige bastante de nós, talvez tenha sido a primeira vez que percebi conscientemente as responsabilidades envolvidas nos processos. Mas, a principal percepção consciente, é de como o tripé psicanalítico é fundamental para essa sustentação.
Tal reflexão me levou a alguns espaços onde alguns colegas psis não demonstravam muita preocupação em estar em um processo terapêutico pessoal. Grupos de supervisão onde a consideração acerca dos relatos sobre casos clínicos onde a resposta de alguns participantes era um automático “você está em análise/terapia? Talvez isso esteja dizendo mais sobre você do que sobre seu analisante / paciente”. A resposta, muitas vezes, era um “é, talvez eu deva voltar, já que faz tempo…”
Eu realmente acho que deveríamos normalizar perguntar ao psicanalista se ele está com a análise em dia. Já vi colegas pensando nesta medida com uma certa aversão, ofendidos com tal consideração. Na minha experiência, quanto mais construímos o setting analítico junto com o analisante, mais ele vai se perceber dentro do processo. Talvez ele já venha imaginando que se estamos na prática, isso é básico. Talvez ele não tenha ideia do que são nossas responsabilidades.
Eu honestamente não sei como é possível uma organização de afetos sem o acompanhamento da análise pessoal, supervisão e continuidade dos estudos. Há a diversidade de materiais discursivos, e há muita coisa a ser elaborada nas incidências de nossa constituição psíquica pessoal. Estamos lidando com conteúdos que se apresentam inesperadamente e que podem mexer conosco. Há casos de intensidades variadas, mas todos exercem um impacto sobre nós.
A subjetividade demanda que nossa manutenção é parte da manutenção do analisante. E instruí-lo sobre a construção do setting analítico também é parte fundamental deste processo. A construção das conexões e alianças terapêuticas passam firmemente pelas linhas do confiar e da empatia. Organizar seu próprio tripé psicanalítico é, também, um ato de amor ao próximo.