Coragem suficiente para mostrar-se vulnerável
A demonstração do desamparo e da vulnerabilidade em análise é um momento tão importante, tão rico e tão doloroso para a maior parte dos analisandos que doi, inclusive, no analista. Dentro do Setting Analítico, do acolhimento, da expressão dos afetos, pode-se tudo, inclusive permitir-se ser frágil.
E por que é tão difícil ser frágil? Por que, quando o espaço é bem construído, o sofrimento emerge mas o não-dito é tão difícil de ser verbalizado?
Chegamos a sentir a dor do analisando, o contorcionismo que vai além do físico, o emocional / psicológico fazendo o possível para: 1) evitar o confronto com tal dor; 2) soltar aquilo que está preso há décadas, dizer o indizível. Dentro deste processo, a coragem para aceder ao desejo da fala. Ao analista, cabe a Escuta, primordial no contexto analítico.
E o confronto com esse afeto que estava lá, bem no fundo.
– “Não penso nisso faz muito tempo.”
– “Não quero mexer com isso não!”
– “Caramba, não imaginava que isso seria uma questão…”
– “Eu PRECISO falar disso.”
E o olhar singular, daquela criança que foi impedida de gritar naquele momento, que ainda não detinha a experiência suficiente para encarar tal situação, não tinha a voz necessária para tal ato, dentro de sua fragilidade e vulnerabilidade, emerge. Agora com mais força para observar-se, reconhecer-se, anuir com si mesmo.
Entrar em um processo analítico não é fácil, não é simples. Ter coragem necessária para demonstrar sua fragilidade e olhar para si é um trabalho que requer cuidado, carinho, dedicação e muito respeito à dor, seja ela qual for.
Aquele choro interrompido. A constante demonstração de força. O medo de falhar. A relação com o tal “sucesso”. O grito que foi engolido. O abraço que nunca foi dado, muitas vezes consigo mesmo. A expressão literal da palavra amor.
Sinta-se acolhido em sua experiência. É o mínimo que podemos fazer.