“Conhecer a individualidade para mudar o coletivo”
“Um passo a frente e você já não está no mesmo lugar”, já diria o saudoso Chico Science. Muitos de nós sentem um ímpeto de fazer a diferença, de ser uma força de transformação, do tal “propósito”. O tal destino, será? Mas o que se observa a olho nu é que nos sentimos constantemente perdidos. Mesmo os que dizem o contrário, em algum ponto, se pegam em seus momentos de reflexão sobre os caminhos escolhidos.
E aí temos um ponto interessante: talvez não nascemos destinados a nada. Apenas nos tornamos o que somos a cada escolha que fazemos. Mas ruminamos o conceito de predestinação (em diferentes níveis pessoais) durante muito tempo, provavelmente insuflados pela mídia, pelo entretenimento, pela fantasia, por um apelo de nossa própria psique no inconsciente coletivo junguiano. Talvez a busca constante por uma sensação de pertencimento?
Dúvidas à parte, não é interessante como fazemos essa busca e gastamos tanta energia, em sua grande maioria, desconhecendo o mínimo do que somos? O que encontramos em análise são pessoas que, ao chegar, acreditam conseguirem se definir e, sessão a sessão, vão se descontruindo desse saber prévio e começam a se reconstituir com um alinhamento mais próximo do que se quer (pelo menos neste determinado momento da vida), reorganizando de forma mais saudável a incidência dessa sensação de incompletude, ou de que algo está faltando. Não que a sensação inexista, ela só não atua como elemento de angústia no cotidiano.
A partir destes redirecionamentos afetivos, as escolhas que farão diferença no coletivo também se tornam mais intrínsecas, mais direcionadas, mais vivas até. E os elementos de transformação social fazem mais sentido, porque estão intimamente ligados ao que somos ou à nossa percepção de ser. Quanto mais nos aproximamos de nós mesmos, mais mudamos o que nos cerca.
E alguns vão gostar muito dessa mudança. Outros, nem tanto. Mas agradar a todos é uma grande utopia. Ao final, o que seria melhor? Estar alinhado consigo mesmo e com pessoas que incentivam essa nova gênese, ou continuar a angústia de tentar agradar, literalmente, todo mundo?