A MANUTENÇÃO DOS CONFLITOS PARA RELAÇÕES SAUDÁVEIS
Algo que sempre também aparece em clínica é a elaboração relacionada a conflitos.
Geralmente, ela surge em um momento da análise onde percebe-se a necessidade de autoexpressão, da fala, da verbalização sobre um afeto, da expressão de uma opinião.
Isso se dá em todos os aspectos de nossas relações: família, trabalho, amigos. A impessoalidade das redes sociais parece ter tornado o ator de expressar-se mais fácil, mas foi exatamente o contrário: o que poderia ser o início de um processo reflexivo torna-se “a minha opinião” e é isso. O diálogo torna-se unilateral, ou seja, inexpressivo do ponto de vista de comunicação.
Este efeito dá-se também em relações afetivas. Quando apenas o casal subsiste no formato de uma via, quando apenas uma opinião é conservada, perde-se a oportunidade da troca, do aprendizado, da ambivalência. Aquele que não expressa guarda aquilo para si, represa a verbalização, deixa de contribuir por vários fatores. Cala-se perante si mesmo, maneja a sua própria não-importância.
No ambiente corporativo isso é até comum. Quantas oportunidades são perdidas pela regra geral da hierarquia, da egocentricidade, do discurso de fracasso repetido à exaustão para que nos tornemos cada vez mais subservientes a um modelo que não nos representa, mas que “é o que temos”.
“Sempre foi assim.”
“Quem sou eu para fazer algo de diferente?”
“A culpa é sua se falhar.”
“Tenho medo da mudança. É melhor ficar quieto e pronto.”
Esse medo do conflito nos é apresentado desde a infância, geralmente por nossos pais. A criança que pergunta “incomoda demais”, a criança criativa é “muito avoada”, a criança que contesta é “muito perguntadeira”. A criança cresce com a descrença do conflito, consagrada pela falta de paciência dos pais, que pode ser representada pela violência verbal, física ou psicológica.
A resposta infantil é “não vou incomodar”.
O ato de conflitar torna-se tabu. A contribuição para a melhoria do relacionamento na apresentação do eu, também.
Não se vive na fronteira da insegurança. Se sobrevive.
Abrir espaços de diálogo é imprescindível para nossas relações.