[FILMES] “Boy erased – Uma verdade anulada”
“Boy erased: uma verdade anulada” é um filme sobre extremismos religiosos que levam um sujeito à nulificação de seu desejo e o que lhe é perene como constituição perante regras que são estruturadas em um sentido de uma pretensa normalização. E como o ambiente pode ser um fator imprescindível de suporte, assim como também pode ser um fator de manutenção do sofrimento pela força bruta, seja física, seja emocional.
Mas acredito que podemos expandir o conceito das faltas de acolhimento a partir de conceitos sobre absolutismos e demais pretensos “fatos inalteráveis”. Para o pai da psicanálise, Sigmund Freud, as fantasias são vistas como uma forma de defesa do ego, pois permitem que o indivíduo lide com seus desejos inconscientes sem ameaçar sua autoimagem ou sua relação com a realidade. Ou seja: a partir dela, o sujeito pode se conectar ao que realmente faz parte de si para, inclusive, transformá-lo. E para nós, psicanalistas, a “palavra além da palavra” é fundamento: quantos significados tem uma simples palavra?
Com o correto exercício dos estudos, da supervisão e da análise pessoal, a Escuta se elabora para a linguagem: sinônimos, antônimos, verbos, significados e significantes abrem portas psíquicas para que o indivíduo possa promover sua própria mudança, sem uma interferência que diga o que ele é, o que ele foi, o que ele deixa de ser. A partir da Escuta, às vezes com uma boa dose de empatia, novas perspectivas surgem para o indivíduo que pode, assim, escolher.
A história, as artes, a cultura em si têm incidência sobre o sujeito. O tempo é inexorável para a psicanálise. Definições não são importantes, só a maneira do sentir o é. Uma pretensa realidade que se pauta somente nos fatos, mas não procura compreendê-los e/ou interpretá-los perde a oportunidade única de acolher o sujeito em sua forma associativa livre, base primária da psicanálise.
Por uma Escuta mais empática. Sigamos.
“Boy erased”
Dir: Joel Edgerton
Disponível no Netflix