A Escuta e as novas formas de sofrimento
“Se um analista não descobre em cada um de seus pacientes, uma nova doença da alma, é porque não o escuta em sua verdadeira singularidade.”
(Júlia Kristeva – As novas doenças da alma)
O processo para a entrada na jornada psicanalítica pode ser bastante traumático. Apesar de Freud desde o início a ter classificado como “prática livre” (não há necessidade de ser um psicólogo ou psiquiatra), nossa construção social nos coloca em imperativos de inseguranças e dúvidas, mesmo com o Tripé Psicanalítico em dia.
A ironia é que essas sensações também fazem parte da psicanálise. O ato de “autorizar-se” permite a prática, não a profissionalização no sentido contumaz da palavra. A dúvida sobre se os caminhos estão sendo dimensionados corretamente, se o atendimento está “correto” (como se isso existisse), ou as difusas elaborações sobre ciências mexem muito com nossas angústias. E não há saída além do Tripé. Porque tais angústias lidam com nossa subjetividade, nossas relações com o coletivo e, principalmente, a construção simbólica do que entendemos como profissão ou trabalho. Elaborar o conceito de “prática” é tarefa para espaços bem mais expansivos do que este.
Uma das pautas mais correntes durante o caminho é sobre os estudos. Inicialmente (e continuamente), Freud. E ele estará em cada elaboração sobre o assunto que trouxermos nas trocas. Freud é o real “inevitável”. Entretanto, estamos falando em um século de distância do agora. E por mais que o ferramental psicanalítico esteja ativo e operante, há necessidades de atualizações, principalmente no conceito de Escuta, que mudou consideravelmente pelas novas formas de comunicação que se dão na atualidade.
Freud nem imaginava o que seria um smartphone nem em seus maiores devaneios. Tampouco a internet, ainda mais como ela foi se desenvolvendo e como ela é problemática nos dias atuais. Parte considerável do sofrimento humano se dá por ela, por mais que não admitamos.
Para nós, psicanalistas, o reencontro com as limitações é uma constante. E compreender a linguagem cultural do momento é parte de uma amplitude da Escuta ao qual precisamos nos submeter. Por mais que isso cause, tristemente, mais sintomas.
Sigamos.