[Filme] “Estamira”
O uso das estruturas de entretenimento para traçar paralelos entre a saúde mental não nos traz para uma realização do que Freud chamou de “Análise selvagem”. Como influências/referências em nossa vida, observar o Outro fictício é parte de nosso contexto diário, de uma mecânica mental que julga/é julgado o tempo todo. E há que se extrair elementos positivos de tal dinâmica. Utilizar formas audiovisuais para debater não só é saudável, mas também elucidativo do ponto de vista do debate.
Dito isso, o documentário “Estamira” já passou por diversos “divãs”, pois suas relações na dimensão da psicose e da esquizofrenia rendem muitas trocas fortuitas e que movimentam. Mais ainda: olhar para as novas formas de sofrimento da moradora de um lixão no Rio de Janeiro nos coloca em uma posição ímpar: a de um lugar que nunca ocuparemos, independente das enfermidades da mente. O sócio-cultural ocupa o discurso em uma narrativa que coloca o sujeito como ponte para o diálogo de si, de suas percepções de mundo e da expansão do desamparo, seja ele social, biológico, familiar, econômico ou político.
Talvez, mais do que isso, “Estamira” seja um documentário que fala de resistência(s). Ao expor de forma crua a negligência social a que muitos de nossos são submetidos, escancara a realidade a partir de uma visão única de mundo: a de alguém que foi excluída desde seu nascimento.
(Direção: Marcos Prado)