[Filme] “Swallow – Devorar”
Apesar de seu título em português, “Devorar”, o filme deve ser assistido em toda sua complexidade com o uso de seu significado primário: engolir. E não apenas em sua literalidade, mas sim sobre tudo o que engolimos durante nosso processo evolutivo, partindo inicialmente daquilo que nos constitui em infância.
Na jornada psicanalítica, é inevitável o encontro com o termo “não-dito” em suas mais diversas formas. De Freud a Lacan (e por vários outros no meio do processo), passar pelo silenciamento, pela não expressão, pelo interrompimento, pelas várias formas de impedimento da comunicação (verbal e não-verbal) nos atravessa de maneira transformadora, seja pela condição de continuidade, seja pela repressão.
No setting analítico, esse “não-dito” é de importância sumária. De signo a significação, de estruturação do discurso, de transferência, de elaboração do sofrer. Manejo, organização, paciência, dedicação e meio são ferramentas essenciais para a digressão da dor.
“Engolir” é um filme sobre não-ditos. E poucas vezes um filme apresenta a relação de transtornos e silenciamentos de forma tão elaborada. Pois, afinal, um filme deve nos levar à reflexão e, potencialmente, ao debate. Pois esta é uma das funções do entretenimento. Ao nos valermos da fantasia para contar algo inerente, também podemos resvalar nas várias formas de acolhimento. Eu engulo para quê? O que estou querendo deixar de sentir? Que condição é esta na qual me coloco à serviço do sofrer para deixar de lidar com o que realmente me atravessa? Quais as sensações que tal ação traz para minha psique de forma perceptível e, mais assertivamente para os pares, inconscientemente.
(Acredito que só está disponível no Mubi ou via torrente)