A adolescência pode parecer uma época de escolhas, de experiências, de vivências. É tudo isso, mas também é uma época onde o indivíduo está lidando com os dilemas mais complexos de sua existência. Afinal, eu não devo ser mais a criança que era e devo ser aquele adulto que todo mundo está esperando. Mas se eu só tenho as referências da infância e devo ser uma outra coisa, como constituir um vínculo com as figuras que tanto esperam de mim?
A psicanálise com adolescentes é um grande desafio, pois é um sujeito que tem muito a dizer, mas ainda não sabe organizar muito bem uma quantidade absurda de afetos (ampliando aqui a visão também para o que se sente no aspecto biológico, afinal o corpo também está em mudança), onde a verbalização é faltosa porque simplesmente não se sabe muito bem como expressar tais sensações. Aliado a isso, há toda a complexificação à respeito da expectativa dos pais, do posicionamento perante os amigos, das centenas de impulsos trazidos pelas redes sociais, pelas comparações com outras pessoas porque não se sabe muito sobre si, entre diversas outras situações. Não se engane: o adolescente, em um curtíssimo espaço de tempo, terá muita coisa a lidar e a sentir. E, no meio de tudo isso, há a ansiedade dos pais, inclusive sobre as continuidades acerca dos próprios desejos.
Portanto, não é uma clínica nada simples e que é muitas vezes menosprezada socialmente, como se o adolescente fosse um “reclamão” ou um “rebelde”. Mas há muita culpa, incerteza, raiva, amor neste ser. E tudo sentido ao mesmo tempo. Elaborar é parte fundamental do processo.
Por isso parte da minha clínica é dedicada a este sujeito tão preterido do debate na saúde mental e muitas vezes impregnado de preconceitos acerca de suas dúvidas e necessidades de experiências. Muitas vezes na figura de isolamento, tristeza excessiva, excesso de elementos digitais, redes sociais, pois foram as maneiras de expressão encontradas por ele. Todas ferramentas que podem trazer mais confusão e ansiedade, trazendo esses sentimentos mais à flor da pele.
Para isso, dedico parte dos meus atendimentos para o acolhimento de analisantes até 17 anos, com autorização e acompanhamento dos pais. Mas a análise é do adolescente, pois ele precisará estar em um ambiente em um ambiente de não-julgamento, ético e acolhedor para dizer tudo o que quiser, mesmo que não o saiba. Portanto o manejo clínico deverá permear também certas mecânicas e metodologias, inclusive incluindo elementos de cultura pop, música, comunicação, entre outros. Todas voltadas para acolher esse indivíduo tão fragilizado.
E também desenvolvo um processo teórico-prático junto ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise e Adolescência, o Neppa/EPC, onde coordeno, junto com o psicanalista Fabrício Tavares, um espaço de construções de conteúdo e práticas com psicanalistas implicados e que possam fazer a diferença para o acolhimento do adolescente.
Precisamos entender que este adolescente se tornará um adulto em algum momento. E que ele precisa de todas as ferramentas possíveis para que sua vida possa ser mais saudável e dinâmica.